sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A Perna Cabeluda


Entre as lendas urbanas mais curiosas do Nordeste está sem dúvida a da Perna Cabeluda, uma entidade sobrenatural que teria assombrado as ruas do Recife durante a década de 1970. Aparecendo onde menos se espera (e por falar nisso, onde é que alguém esperaria que aparecesse?), esta criatura era o oposto-simétrico do Saci Pererê. Ou seja, era uma perna-sem-pessoa, em vez de uma pessoa-sem-perna. Surgia pulando (eu já ia dizer “pulando num pé só”), atacava os transeuntes, dava chute em todo mundo, e depois fugia pulando.
Foi cantada em verso e em prosa. Apareceu como protagonista em folhetos de cordel como A Perna Cabeluda de Tiúma e São Lourenço de José Soares, inclusive um em que ela enfrentava outra criatura mítica: A Véia debaixo da cama e a Perna Cabeluda de José Costa Leite. Apareceu também em um vídeo de Marcelo Gomes, A Perna Cabeluda (1995). Figurou em shows de Chico Science & Nação Zumbi: Chico dançava com uma perna de pano estufada, e depois a jogava no meio da platéia. Eu próprio a utilizei como tema num curta para TV de 40 minutos para o programa Viva Pernambuco, em 1996, dirigido por Romero de Andrade Lima e Cláudio Assis.
A Perna Cabeluda é um bom exemplo de como surgem essas criaturas folclóricas. Uma vez eu estava em Recife conversando com o escritor Raimundo Carrero, que me deu uma versão para o surgimento dessa lenda. Ele e Jota Ferreira tinham um programa de rádio (pelo que me lembro ele era redator e Jota Ferreira o apresentador, mas posso estar enganado). E uma noite, entre uma música e outra deram uma notinha humorística, mais ou menos assim: “Pois é, meu amigo, a vida no Recife não anda nada fácil!... Chega agora à nossa redação a notícia de que Fulano de Tal, guarda-noturno, chegou em casa depois de uma jornada de trabalho e deitou-se para dormir ao lado de sua esposa. Ouviu um barulho, e ao olhar para baixo viu uma perna cabeluda embaixo da cama!”
A intenção era sugerir, com a imagem da perna cabeluda, a presença do “urso”, do amante da esposa. A nota provocou muitos risos, e no dia seguinte, ele voltaram à carga. “E atenção, minha gente... Sicrano de Tal, morador da Imbiribeira, chegou em casa de viagem, e para sua surpresa viu a perna cabeluda fugindo pela porta da cozinha!” E aí não parou mais. Usada inicialmente como uma sinédoque visual (a parte pelo todo), a perna acabou ganhando vida própria.
                                           
Isto não quer dizer que qualquer coisa inventada vire automaticamente uma lenda. Neste caso específico virou porque a imagem resultante ficou ao mesmo tempo absurda e engraçada, ou pelo menos assim pareceu à galera onde a história começou a circular (ouvintes de rádio dos subúrbios recifenses). Imagens e figuras semelhantes são lançadas diariamente no caldeirão cultural. É um processo aleatório. Umas pegam, outras não. “Cultura popular” talvez se defina por este aspecto aleatório, onde não se pesquisa, não se planeja, e as criações dão certo meio que por acaso.


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Lançamento "Chá com Turmalina"


É uma série idealizada por Jorge de Souza. Terá seu lançamento no auditório da livraria cultura, no shopping paço alfandega, no dia 29 de julho, segunda-feira às 19 horas.

A série surgiu no curso de roteiro promovido pela APPIA (produtores independentes de Audiovisual), ministrada pelo próprio Jorge de Souza. Nas aulas Jorge contou sua ideia e mostrou um texto de um episodio e desafiou os alunos a continua-la com fins de exercício de roteiro. Mas a ideia foi cada vez ganhando mais força. Bons personagens foram surgindo e mesmo com as complexidades dos personagens e o tema pesado abordado pela serie, os roteiristas atingiram o objetivo.

Assim foi surgindo a nossa Turmalina. Uma simpática senhora. Divertida, frágil e muito “bondosa” (aos olhos das pessoas), muito querida por todos, já que é idosa e está sempre só em sua casa, leva bolos aos vizinhos... Mas a personagem tem outro lado. Que ninguém desconfia... Desde criança demonstrava sutilmente seu lado perverso. Quando tentou matar seu irmão mais novo no berço, quando jogou o gato da família na água que sua mãe fervia, quando matava os pintinhos dos seus irmãos e achava divertido ou quando torturava pequenos animais. Isso da uma boa noção do que é nossa Turmalina. Mas mesmo assim, todos esses detalhes, passaram despercebidos fazendo com que pessoas comuns acabassem se tornando presas fáceis para nossa grande e adorável vilã, otimamente interpretada por Madalena Saboia e suas vítimas Fátima e Ana Karla Medeiros e Marcelo.



Os roteiros ficaram por conta de Carol Holanda, Sergio Teixeira, Jorge de Souza e Nataly (com supervisão de Jorge de Souza), a série foi Dirigida por Jorge de Souza e Izem Berg um Episodio (acho que vi um gatinho). Os próximos episódios estão em produção e já conta com roteiros de Izem Berg. Fernando Carmino é responsável pelas belas imagens da web série. A Arte fica por conta de Costa Juan e a edição das imagens com Rômulo Amaral. Toda a produção foi da APPIA (associação Pernambucana de Produtores Independentes de Audiovisual)